Imagine que existissem, hoje, chips que, instalados em determinadas partes do corpo humano, mandassem para o computador do seu médico de confiança o atual estado de funcionamento do organismo. Daí, com a ajuda de um software inteligente, o especialista teria em mãos dados capazes de indicar sinais de sintomas que podem ser a base de uma doença, dando tempo para que você se cuide antes de chegar num estágio mais grave.
Isso, infelizmente não foi desenvolvido no campo da medicina, mas o método já existe para o setor de energia elétrica. A dona da tecnologia é a empresa brasileira Treetech, criada em 1992. Hoje, com apenas 50 funcionários e sede em Atibaia, interior de São Paulo, a companhia tem sua tecnologia espalhada em 31 países, além do Brasil.
Em 2008, ela recebeu o selo single-source do Departamento de Energia Americano, pela melhor solução para monitoramento de transformadores, detectando mais de 50% das falhas que ocorrem no equipamento antes de haver um blecaute. Situação inédita no mundo, até então cerca de 30% das falhas eram encontradas pelas técnicas tradicionais.
“O que criamos foram pequenos termômetros munidos de chips capazes de identificar as várias condições [temperatura, pressão etc] dos equipamentos que compõe as subestações de energia elétrica. Eles são colocados em vários locais de um transformador, por exemplo. De lá, o chip dos termômetros envia sinais do estado do equipamento para uma central de controle da subestação de energia. Assim, nosso cliente tem em tempo real dados sobre as condições dele”, explica Eduardo Pedrosa, presidente da empresa, convidado para participar do 11º Fórum de Debates Brasilianas.org, que discutiu os desafios do setor elétrico, em São Paulo, dentre eles os chamados smarts grids (redes inteligentes) que estão determinando a nova configuração dos sistemas de energia elétrica no mundo.
Pedrosa conta que o chip dos termômetros foi desenvolvido em parceria com o laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológicos (LSI-TEC) da Universidade de São Paulo (USP). O projeto recebeu apoio de R$ 122 mil da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia. O custo de fabricação do chip é de US$ 16 por unidade e pode evitar falhas em transformadores que custam em média R$ 400 mil.
Com o termômetro convencional, Furnas parava o transformador a cada dois anos para fazer a manutenção. Com os equipamentos da empresa, mudou para cinco anos, sendo que parar um transformador traz custos imensos. "Por isso nosso custo é absolutamente desprezível porque agora Furnas substitui um antigo termômetro, que só informava problemas quando o equipamento estava praticamente deixando de funcionar, por um que dá tempo para realizar manutenções antes que seja tarde demais”, considera Pedrosa.
Além de Furnas, a empresa tem como clientes no país a Eletronorte, Eletrosul e CPFL. No exterior, fechou contrato com a Western Area Power Administration (Wapa), concessionária do Departamento de Energia dos Estados Unidos, e que domina metade do mercado daquele país. O início da conquista do mercado exterior se deu, segundo Pedrosa, depois que uma empresa de energia norte-americana utilizou um equipamento da Treetech que evitou um apagão em metade da cidade de San Diego, na Califórnia.
“Nós competimos no mercado com gigantes como a Siemens, que tem quase 120 mil pessoas e vários centros de pesquisas pelo o mundo. Para eles [os países de fora] têm sido muito difícil entender como nós conseguimos isso no Brasil”. Atualmente, conta Pedrosa, a empresa possui 78 pedidos de patentes no Brasil e no mundo, e a tecnologia que desenvolveu já está em sua terceira geração.
Há pouco mais de um mês, o Diário Oficial da União (nº 136) publicou o nome das 18 empresas brasileiras reconhecidas com a Ordem do Mérito do Trabalho Getúlio Vargas, condecoração criada em 2009 pelo Ministério do Trabalho para pessoas e entidades que prestaram serviços relevantes para o desenvolvimento e modernização das relações de trabalho no país. Dentre os nomes estava o da Treetech.
“Hoje, 10% do nosso faturamento é investido em Pesquisa e Desenvolvimento [a média do Brasil é menor do que 2% do Produto Interno Bruto]. Então temos, na verdade, uma empresa de Pesquisa e Desenvolvimento, que tem a sua parte comercial”, conclui o diretor.
Foto: Portal da Comunicação Treetech
Nenhum comentário:
Postar um comentário