CISB desenvolverá estudo em parceria com UFMG e KTH para propor modelo regulatório e de negócio em projeto da CEMIG
As energias renováveis são tema cada vez mais constante na
pauta de governos, mas ainda pouco se aplica na realidade dos centros
urbanos. O CISB faz parte de um projeto que pretende trazer para o
Brasil a integração de sistemas autônomos de geração de energia limpa,
os chamados microgrids, com a rede central de distribuição. A Companhia
Energética de Minas Gerais (Cemig) e a Fundação de Amparo à Pesquisa
de Minas Gerais (Fapemig) aprovaram o projeto em edital lançado para
seu programa de pesquisa e desenvolvimento para o setor energético.
O engenheiro de Tecnologia e Normalização da Cemig, Ricardo
Carnevalli, afirma que a ideia é muito promissora, mas envolve dois
principais desafios. O primeiro é técnico. O projeto piloto deverá
trabalhar com a cogeração de energia solar e a gás abastecendo certo
grupo de residências. Esse microssistema pode ser autossuficiente, pode
precisar de complementação da rede comum de energia elétrica ou pode
gerar excesso na produção local e redirecionar essa energia para a rede
da cidade. Isso significa que a rede, que atualmente apenas abastece
essa área, poderá também receber um fluxo de energia na direção
contrária – o que implica na necessidade de um sistema capaz de se
reprogramar para essas mudanças de forma automatizada e à prova de
blackouts.
O segundo desafio está no desenvolvimento de regulação desse
novo sistema. “A implantação dos microgrids muda a relação entre a
Cemig e o consumidor, uma vez que ele agora pode ser ao mesmo tempo
comprador e fornecedor”, explica Carnevalli. “Atualmente, no Brasil,
ainda não há uma regulamentação bem definida para aplicarmos ao modelo
de microgrids e tudo ainda é muito incipiente. É preciso então também
repensar o nosso modelo de negócios nesse novo contexto. O que há
atualmente é um fluxo unilateral, mas existem outras formas adotadas em
outros países e é preciso levar essas alternativas em conta”.
É justamente na solução do segundo desafio que entra o projeto
coordenado pelo CISB, por meio de parceria com a Universidade Federal
de Minas Gerais – representada pela professora Eleonora Saad – e o KTH
Royal Institute of Technology – com a professora Semida Silveira. Elas
coordenarão pesquisadores na área de desenvolvimento urbano para a
criação de um novo modelo de negócio para atender essa nova demanda na
área de energia.
Carnevalli entende que os microgrids trazem ao mesmo tempo um
cenário de risco e oportunidade. As companhias de energia brasileiras
hoje faturam com a venda de energia em cima de consumo medido. Quando
os consumidores param de comprar dessas empresas porque contam com uma
fonte alternativa, há a perda de receita. “Se essas redes independentes
crescem e ganham proporção, esse risco é ainda maior”, acredita. “Por
outro lado, enxergamos oportunidade nesse risco. A companhia pode ser
sócia do empreendimento com serviços de operação e manutenção, por
exemplo”.
A gerente de parcerias do CISB, Alessandra Holmo, acredita
que o projeto tem uma perspectiva promissora, uma vez que aliará ao
trabalho de uma universidade brasileira de ponta a experiência sueca
com projetos bem sucedidos de microgrids. “Na Suécia, o conhecimento
sobre microgrids é bem consolidado. Vamos lançar mão de uma competência
existente para entender e propor as melhores soluções para colocar em
prática no contexto brasileiro”, diz. Segundo ela, o ambiente de
colaboração proposto pelo projeto é importante por se tratar de uma
área crítica.
O projeto terá duração de três anos e a expectativa é que
inicie as operações a partir de maio. A colaboração entre os dois
países será reforçada com a realização de workshops anuais, sendo o
primeiro na Suécia e os seguintes no Brasil. “Serão momentos
importantes para dispor do conhecimento existente sobre o assunto,
fazer contatos e estabelecer uma rede de relacionamentos estratégicos
que podem se transformar em novas oportunidades de parceria para a
Cemig”, explica Alessandra. Nesses eventos, profissionais envolvidos no
projeto e especialistas ligados ao tema discutirão o estado da arte na
área de microgrids e os encaminhamentos do programa da Cemig.