ARTIGO MUY INTERESANTE DE LA REVISTA VEJA SOBRE UN TEMA POLEMICO Y ACTUAL,SOBRE LA CARRERA DE INGENIERIA,LA FORMACION DE INGENIEROS EN LOS PAISES EMERGENTES Y SU RELACION CON EL DESEMPEÑO INDUSTRIAL Y EMPRESARIAL,PIENSO QUE EL ANALISIS TIENE QUE SER TECNICO,REFLEXIVO,CRITICO Y SERIO,PENSANDO EN EL PAIS ,DEJAR POSICIONES NETAMENTE POLITICAS.
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A pilha de 400 000 currículos enviados à Vale, a maior empresa privada brasileira, ajuda a retratar uma mudança crucial no mercado de trabalho no Brasil. Apenas uma pequena parcela da montanha de propostas é de engenheiros. Mais exatamente, 5%, ou 20 000 currículos. Onde está a mudança? Em primeiro lugar, há alguns anos o número de propostas de trabalho enviadas por engenheiros era muito maior. A segunda e mais importante: a Vale precisa agora do dobro do número de engenheiros que se apresentaram para preencher as vagas disponíveis. A solução? A Vale foi às faculdades tentar recrutar estudantes antes mesmo da formatura. O exemplo acima é o microcosmo de um fenômeno mais abrangente, um típico "bom problema", o da escassez de mão-de-obra especializada em uma economia que cresce sem parar. Segundo um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil tem hoje seis engenheiros para cada grupo de 100 000 pessoas, quando eles deveriam ser pelos menos 25 por 100 000 habitantes para dar conta das vagas atualmente abertas. A escassez de engenheiros é um problema para qualquer país, mas, no caso de nações em desenvolvimento com infra-estrutura maltratada, como o Brasil, a situação é mais crítica. Isso porque eles são mais necessários em um país que tem estradas, ferrovias, portos, fábricas e edifícios por fazer. Em um momento de crescimento econômico como o atual, essas obras começam a sair do papel – e aí os engenheiros e técnicos de alto nível passam a ser os personagens principais entre os agentes econômicos. Resume o economista Marcos Formiga, coordenador da pesquisa: "Formar engenheiros em ritmo acelerado tornou-se uma questão de sobrevivência para o Brasil".
Fabiano Accorsi Recém-formado, Otávio de Oliveira recebeu cinco propostas de emprego: "Pude escolher à vontade". O número de engenheiros formados todo ano no Brasil é de fato baixo – e uma comparação com outros países emergentes ajuda a dimensionar isso. Em 2006, 30 000 estudantes brasileiros saíram da universidade diplomados em engenharia. A Coréia do Sul graduou 80 000. A China despejou no mercado 400 000 novos engenheiros (veja o quadro). Essa evidente desvantagem brasileira tem, antes de tudo, uma raiz econômica. Nas décadas de 80 e 90, enquanto as economias coreana e chinesa cresciam na casa dos dois dígitos e ofereciam aos engenheiros emprego a granel, o Brasil patinava. Sem verem no horizonte chances de prosperar, os jovens passaram a fugir dessa carreira – e justamente aí se iniciou o problema. Foi quando a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), uma das melhores em engenharia do país, deu números à crise: nos anos 80, apenas 40% dos estudantes de lá arranjavam emprego ao se formar, mais da metade deles no mercado financeiro. O cenário era bem diferente do de décadas anteriores, quando a engenharia figurava como uma das três carreiras de maior prestígio e remuneração, junto com direito e medicina. Segundo o mesmo levantamento da Escola Politécnica, a situação atual começa a assemelhar-se com a daqueles tempos áureos. Os alunos hoje deixam a universidade com cinco ofertas de trabalho, caso de Otávio de Oliveira, 26 anos: "Não tinha enviado ainda meu currículo às empresas, e elas começaram a me ligar oferecendo emprego". A perspectiva de emprego certo é, sem dúvida, um estímulo e tanto para renovar o interesse dos jovens brasileiros pelos cursos de engenharia. Há outro ainda mais atraente. Diante da escassez de profissionais, as empresas estão aumentando o salário dos engenheiros. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a remuneração inicial média triplicou no último ano, de 1 500 para os atuais 4 500 reais. Nenhuma outra carreira registrou nada semelhante. O próprio mercado, portanto, se encarrega de uma parte do problema. Ainda assim, os especialistas afirmam ser necessário tomar pelo menos duas medidas para contornar um déficit de tal grandeza. A primeira é de longo prazo e diz respeito à melhora do ensino de matemática e ciências no país, em destaque nos ran-kings de educação por sua péssima qualidade. Essas são duas das disciplinas mais temidas e odiadas na escola pelos estudantes brasileiros. Na universidade, uma parte deles naturalmente evitará uma carreira como a engenharia. Cerca de 300 000 ainda chegam a ingressar no curso, mas, com uma base tão frágil, 60% desistem na metade. Diz o economista Claudio de Moura Castro: "Nenhum país conseguiu formar engenheiros em bom número – e qualidade – sem um investimento maciço no ensino de ciências e matemática".
Ulysses Soares numa escola técnica: lado prático A segunda medida defendida por especialistas para aumentar a parcela de engenheiros no país é a aposta num tipo diferente de ensino de nível superior: são cursos dados em escolas técnicas, e não nas universidades. Eles duram em média dois anos, portanto a metade do tempo de uma faculdade convencional, e ao fim os estudantes saem com um diploma de curso superior, como os demais. Essa celeridade, por si só, já é bem-vinda no contexto atual. Outra característica positiva dessas escolas é o foco no lado mais prático da profissão. Antes de definirem o currículo, os professores consultam as empresas no entorno da escola. O objetivo é preparar profissionais para atender a necessidades bem concretas do mercado. Eis o caso do Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia, uma escola técnica particular de Salvador. Lá é dado um bom curso de formação de especialistas em produção de peças e sistemas para a indústria automobilística. A idéia de algo tão específico surgiu da dificuldade manifestada pela Ford, cuja maior fábrica no Brasil fica a 50 quilômetros da escola, em recrutar nas faculdades de engenharia gente capacitada para a tarefa. A própria empresa contribuiu com 2 milhões de reais em equipamentos para laboratórios e criação de cursos. Um dos estudantes de lá, Ulysses Soares, 20 anos, se diz satisfeito com a opção pelo ensino técnico. Ele resume o clima local: "Com tanta aula prática, nunca estive tão motivado para estudar". Existem 1 200 escolas técnicas de nível superior no Brasil. Nessa lista, há de tudo: instituições públicas e particulares e, evidentemente, exemplos de bom e mau ensino. Pela primeira vez, o Ministério da Educação (MEC) destacou num ranking as melhores dessas escolas técnicas em dez diferentes áreas (veja a lista). "Elas têm padrão de Primeiro Mundo", diz o secretário de Educação Profissional e Tecnológica, Eliezer Pacheco. Metade delas oferece cursos alternativos às tradicionais engenharias ensinadas nas universidades. Chama ainda atenção o fato de todas as dez, não importa a área, garantirem na saída um bom emprego a pelo menos 95% dos estudantes. Um contraste em relação aos números do desemprego entre os jovens recém-formados no Brasil: 60% deles não têm nenhuma perspectiva de trabalho à vista. Conclui o economista Lauro Ramos, do Ipea: "As escolas técnicas estão conseguindo fornecer ao mercado gente mais sintonizada com as necessidades do mundo real – para todo tipo de cargo e remuneração". Leo Caldas/Titular Cursos técnicos atraem para a sala de aula gente como Polliana e Adriano: alternativa mais rápida e acessível Em vários países, as escolas técnicas – sejam elas de ensino superior, sejam de ensino médio – tiveram papel fundamental no aumento da escolaridade da população. Isso por sua capacidade de atrair para a sala de aula gente sem tanto tempo, dinheiro (elas custam em média três vezes menos) ou ainda interesse em matricular-se numa universidade tradicional. Nos Estados Unidos, a maioria dos alunos de ensino superior está matriculada numa escola técnica, e não em faculdades convencionais. É o caso de 60% dos jovens. Na Coréia do Sul, são 65% deles. No Brasil, apenas 9% dos jovens seguem tal caminho. Por duas razões. Primeiro, porque essa modalidade só foi reconhecida oficialmente pelo MEC em 1996 – com um século de atraso em relação a alguns países da Europa e aos Estados Unidos. Em segundo lugar, porque, ao contrário do que ocorre em outros países, as escolas técnicas são até hoje vistas no Brasil como inferiores às universidades. Diz o sociólogo Simon Schwartzman, estudioso do assunto: "Nenhum país pode pretender formar apenas Ph.Ds. versados em filosofia alemã. Só com a diversificação, afinal, é possível massificar o ensino superior".
Histórias como a do pernambucano Adriano Martins de Lima, 25 anos, ilustram bem a idéia do sociólogo. Ele estava fora de uma sala de aula havia dois anos e trabalhava como faxineiro numa empresa de tecnologia no Recife. Lá, ouviu falar de um bom curso de programação de softwares, dado na Universidade Brasileira de Tecnologia, uma das melhores no ranking do MEC. Convocou uma reunião familiar, da qual saiu com a promessa da mãe e de cada um dos seis irmãos de contribuir com a mensalidade de 400 reais do curso. Às vésperas da formatura, Adriano está prestes a tornar-se programador de sistemas de nível superior, mas já trabalha nessa função e o salário quintuplicou. Ele resume: "Foi a minha única chance de prosseguir com os estudos". Por essas e outras, o fato de o governo federal ter recém-anunciado a duplicação das vagas em escolas técnicas é, sem dúvida nenhuma, um bom começo. Também pode contribuir de modo decisivo para reduzir a crônica escassez de engenheiros no país.
Com reportagem de Camila Pereira